Pague o aluguel

by - 11.6.18


"Você se cobra demais" - disse um colega meu. Não foi o que eu esperava ouvir, pelo menos não dele. Já ouvi bastante isso da minha psicóloga, que conhece diversas partes da minha vida particular. Já ouvi isso do meu namorado que sempre me escuta em meus momentos de fraqueza. Mas de um colega com quem eu nunca conversei nada sobre mim, eu não esperava ouvir isso. Confesso que a primeira coisa que passou na minha mente foi: poxa vida, é tão óbvio assim? Me surpreendi ao perceber que talvez muita gente veja a frustração nos meus olhos, mesmo que ela nunca saia pelos meus lábio.

Sendo bem sincera a minha auto cobrança nunca foi algo que eu consegui medir muito bem. Eu sempre achei que podia fazer mais, que podia me dedicar mais e que podia ser melhor. Nunca achei que era suficiente, que eu era suficiente. Na minha cabeça se eu ainda não estava onde eu queria, era por que eu não estava fazendo o meu melhor. Acho que esse era o único referencial que eu tinha para me avaliar. Mas acabava que o que eu sentia era que meus vídeos nunca eram bons o suficiente, minhas edições nunca eram como eu queria que fossem, meus textos nunca eram claros o suficiente, minhas peças processuais nunca argumentavam o suficiente, o livro que eu escrevi e as várias histórias que eu comecei nunca estavam boas.  Eu sempre vivi numa eterna frustração e como sou prática vivia sempre buscando algo que me tirasse dela. Vivia numa busca incessante por algo que eu nem sabia se existia.

Eu sempre achei que me cobrar era bom, evitaria que eu ficasse relapsa e em determinadas situações que eu sofresse.  Na minha cabeça me deixaria forte, mas no fundo só fez com que eu me fechasse para o mundo e criasse um medo absurdo de errar. Um medo do meu eu crítico que sabe ser bem duro quando está frustrado e desapontado. Como eu já disse nesse vídeo, no fundo o problema da minha vida sou eu. Hoje consigo que perceber que ser essa pessoa tão cruel não me ajuda como imaginei. O tal "ficar relapsa" que sempre quis evitar tem muito mais a ver com me manter no presente do que com me punir diante de erros.


Hoje eu assisti esse vídeo da Cecília Dassi e em determinado ponto ela disse a seguinte frase: "A gente precisa se comparar com a gente mesmo". Isso fez muito sentido para mim como parâmetro para encontrar essa medida de entre o suficiente e o relapsa. O meu referencial não pode estar em nenhum outro lugar que não seja em mim mesma. Mas para isso eu preciso entender como eu funciono e saber até onde eu posso ir de maneira saudável. Esse é o meu suficiente.

No final das contas a moral da história é que eu tenho que parar de ser o Seu Barriga que em todos os episódios está cobrando o aluguel do Seu Madruga, mesmo sabendo que ele não vai pagar. Talvez não por que ele não queira pagar, mas por que ele não possa pagar. Tenho que pegar leve, me levar para umas férias em acapulco e começar a entender  quanto do aluguel eu consigo pagar para ser feliz.

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