Pague o aluguel
"Você se cobra
demais" - disse um colega meu. Não foi o que eu esperava ouvir, pelo menos
não dele. Já ouvi bastante isso da minha psicóloga, que conhece diversas partes
da minha vida particular. Já ouvi isso do meu namorado que sempre me escuta em
meus momentos de fraqueza. Mas de um colega com quem eu nunca conversei nada
sobre mim, eu não esperava ouvir isso. Confesso que a primeira coisa que passou
na minha mente foi: poxa vida, é tão óbvio assim? Me surpreendi ao perceber
que talvez muita gente veja a frustração nos meus olhos, mesmo que ela nunca
saia pelos meus lábio.
Sendo bem sincera a
minha auto cobrança nunca foi algo que eu consegui medir muito bem. Eu sempre
achei que podia fazer mais, que podia me dedicar mais e que podia ser melhor.
Nunca achei que era suficiente, que eu era suficiente. Na minha cabeça se eu ainda
não estava onde eu queria, era por que eu não estava fazendo o meu melhor. Acho
que esse era o único referencial que eu tinha para me avaliar. Mas acabava que
o que eu sentia era que meus vídeos nunca eram bons o suficiente, minhas
edições nunca eram como eu queria que fossem, meus textos nunca eram claros o
suficiente, minhas peças processuais nunca argumentavam o suficiente, o livro
que eu escrevi e as várias histórias que eu comecei nunca estavam boas. Eu sempre vivi numa eterna frustração e como
sou prática vivia sempre buscando algo que me tirasse dela. Vivia numa busca
incessante por algo que eu nem sabia se existia.
Eu sempre achei que
me cobrar era bom, evitaria que eu ficasse relapsa e em determinadas situações
que eu sofresse. Na minha cabeça me
deixaria forte, mas no fundo só fez com que eu me fechasse para o mundo e
criasse um medo absurdo de errar. Um medo do meu eu crítico que sabe ser bem
duro quando está frustrado e desapontado. Como eu já disse nesse vídeo, no fundo o
problema da minha vida sou eu. Hoje consigo que perceber que ser essa pessoa
tão cruel não me ajuda como imaginei. O tal "ficar relapsa" que
sempre quis evitar tem muito mais a ver com me manter no presente do que com me
punir diante de erros.
Hoje eu assisti esse vídeo da Cecília
Dassi e em determinado ponto ela disse a seguinte frase: "A gente precisa
se comparar com a gente mesmo". Isso fez muito sentido para mim como
parâmetro para encontrar essa medida de entre o suficiente e o relapsa. O meu
referencial não pode estar em nenhum outro lugar que não seja em mim mesma. Mas para
isso eu preciso entender como eu funciono e saber até onde eu posso ir de
maneira saudável. Esse é o meu suficiente.
No final das contas
a moral da história é que eu tenho que parar de ser o Seu Barriga que em todos
os episódios está cobrando o aluguel do Seu Madruga, mesmo sabendo que ele não
vai pagar. Talvez não por que ele não queira pagar, mas por que ele não possa
pagar. Tenho que pegar leve, me levar para umas férias em acapulco e começar a
entender quanto do aluguel eu consigo pagar para ser feliz.
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