Como não precisar processar alguém

by - 3.6.18

Para quem não sabe eu sou advogada e uma das coisas que me deixava um pouco desconfortável com a minha profissão era a ideia de que havia um conflito que seria resolvido sempre com uma BRIGA judicial. Essa ideia de polaridade, antagonismo e embate era visível até mesmo quando os próprios advogados que eram colegas, mas tratavam-se como rivais. Era uma vida de tensão desconfortável. Principalmente por que muito das situações que eu via podiam ser facilmente resolvidas numa conversa sincera. Mas as pessoas preferiam abrir mão do poder de decisão das suas vidas, por que não queriam negociar, fazer concessões, se colocar no lugar do outro.

O que eu via era que toda essa cultura de entrar no Judiciário diante de um conflito, era muito menos em busca de justiça real e muito mais uma preguiça ou dificuldade de se comunicar. É muito mais fácil ter alguém que decida por nós. Eu acho a liberdade um princípio tão primariamente fundamental quanto comer, e muitas vezes me causava estranheza as pessoas simplesmente abrirem mão da sua liberdade de escolha, para que um terceiro diga o que tem que ser feito, numa situação tão simples. 

Eu não estou aqui desfazendo do sistema jurídico nacional, dizendo que ele não é importante. Tem situações que ele imprescindível. Mas, o próprio judiciário e Conselho Nacional de Justiça já perceberam que existem e são necessárias outras formas de resolver um conflito. Uma delas é a mediação. Quando eu li sobre mediação pela primeira vez eu achei era apenas mais uma forma de desafogar o judiciário, mas resolvi entender melhor e descobri que é muito mais que isso. Acabei me formando como mediadora judicial e durante o meu curso teve uma colocação da instrutora que me faz pensar até hoje: Existe justiça quando as duas pessoas podiam sair felizes, mas apenas uma saiu vencedora?

Me perdoem os mediadores se eu estiver sendo muito rasa na definição, mas eu costumo trazer a ideia simples e rápida que a mediação é uma forma de facilitação da comunicação entre as partes. A mediação mantém a liberdade das partes de fazerem escolhas juntas. Não é o mediador que vai decidir nada, ele só facilitar a comunicação para que as partes de forma madura e conjunta possam conversar e quem sabe resolver seus próprios problemas.

Eu lembro que um dia a minha instrutora mandou uma lista de livros com temas legais para a mediação e eu resolvi ler um que se chamava Comunicação Não Violenta (CNV). Ao ler o livro eu me apaixonei pelo tema, mas havia entendido como se a CNV fosse apenas mais uma ferramenta para mediação. Até que no mês passado teve um evento sobre o assunto aqui na cidade e eu, que já era fã, resolvi ir.

Eu tenho um vídeo no canal sobre a CNV (clica aí embaixo se quiser assistir!) que explica uma parte do tema com base na minha experiência com a leitura do livro. Confesso que depois do evento meu conceito se ampliou bastante, mas acredito que o vídeo ainda seja válido. 


A CNV se baseia na filosofia de Gandhi de não violência. Lembra as aulas de história do colégio? Você pode ter ouvido sobre protestos e manifestações pacíficos liderados por Ghandi. Ele "brigava" pelo que acreditava, mas sem de fato haver qualquer confronto corpóreo ou verbal que fosse ofensivo. Mesmo que a polícia "descesse o cacete" ele não revidava. Mas a CNV não é sobre ficar inerte e aceitar tudo. É sobre dizer tudo que precisa ser dito de forma madura. É analisar os sentimentos e valores por trás da fala das pessoas para que se possa entender o que ela quer comunicar.

Descobri que a CNV não é uma ferramenta e hoje acredito que é um estilo de vida que assim como a mediação prega a boa, clara e profunda comunicação entre os seres humanos. É impressionante como a gente acha que sabe se comunicar bem, mas quando estuda sobre isso descobre que tem muito ainda a aprender.

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