Domingos são felizes. Eu confesso que antes da bike eu reclamava quando fechavam ruas para as pessoas curtirem nelas. Nesta pedalada eu descobri que é a melhor coisa que podem fazer na face da terra.
Durante a semana, comecei a pensar em como ficar mais segura pedalando na cidade. Pensei que talvez pedalando em grupo eu estaria mais segura. Andei pesquisando grupos de ciclista na cidade, mas cheguei à conclusão que para quem está iniciando não é lá a melhor coisa a se fazer logo de cara. Ainda pensando em liberdade e segurança, eu lembrei que a prefeitura fecha algumas ruas da cidade aos domingos e que muita gente fica fazendo atividades como andar de skate, andar de patins e também de bike. Bingo!
Resolvi ir então a uma dessas ruas, mas para isso teria que pedalar pela ruas, junto aos carros, até conseguir chegar lá. Tracei a rota na minha mente, quais seriam os perigos e dificuldades, pensei em como superar esses problemas e fui. Era a primeira vez que eu estava andando de fato no meio da rua junto dos carros. Era um domingo, então o fluxo de carro estava bem tranquilo de se andar. Uma coisa, no entanto, que reparei que tenho que tomar cuidado são ônibus. Os carros conseguem desviar facilmente e manter a distância de 1,5 m da bicicleta, mas os ônibus são bem largos e em certas ruas isso é um problema. Por sorte todas a vezes que um ônibus passou por mim eu estava desmontada andando com bike pela calçada (por que se cansar faz bem!).
Uma das principais coisas que tornam andar de bike não tão seguro, depois dos carros, são os momentos que você tem que parar, seja pelo sinal vermelho, seja por que tem uma saída/entrada de carro. Na minha cabeça esses são os momentos em que você fica mais vulnerável a abordagens indesejadas (leia-se assaltos). Em todo o caminho eu teria que parar em uma sinaleira e como é fim de ano, elas ficam lotadas de pedintes. Não estou dizendo que pedinte é ladrão, mas sim que eu tenho medo de ficar parada em qualquer lugar nas ruas de Salvador, independente de quem esteja nela. Eu não gosto de abordagens inesperadas, seja de pedinte, assaltante e até de pessoas querendo tomar informações de como chegar a algum lugar. Sou meio antissocial nesse aspecto, talvez por isso sempre ande de cara fechada na rua. Decidi que ao me aproximar da sinaleira eu iria ver se ela estava aberta ou fechada e que se estivesse fechada eu pararia um pouco mais atrás ou viria andando bem devagar até ela abrir. Esse era o plano. Cheguei na sinaleira e ela estava fechada, fui andando e cheguei na bendita e ela continuava fechada. O que eu fiz? Atravessei a faixa como se fosse pedestre e procurei um ponto mais seguro onde eu pudesse voltar a pedalar.
Cheguei na rua fechada. Velho, que maravilha. Tinha gente de todas as idades, fazendo as mais diversas atividades. Não ter que ficar preocupado com os carros é maravilhoso. Era uma avenida bem grande, fechada nos dois sentidos. Eu dei uma volta inteira nela. No meio do caminho um senhor que pedalava com o filho me interpelou falando que eu deveria diminuir a marcha por que facilitaria pedalar. Queria explicar que não sentia tanto controle dos pedais com a marcha mais leve, mas estava tão ofegante que tudo que consegui foi diminuir a marcha e levantar o polegar, dando um positivo (ou talvez tenha sido o meu lado antissocial). Fiquei olhando ele caminhar e parecia tão simples. Por que eu estava ofegante quase morrendo? A marcha pode ter sido o problema, mas não era o único. Eu estava pedalando freneticamente, como se tivesse que chegar logo ao destino antes que os zumbis me pegassem. Ciente disso, diminui o ritmo e tentei curtir mais o passeio, afinal aquilo não era uma maratona.
Fiquei analisando no caminho e percebi que todas as minhas pedaladas eram assim. Eu andava pouco e chegava morrendo em casa. Achei que era por que estava começando e fora de forma, mas na verdade eu estava na marcha mas pesada e ansiosa. Cheguei a conclusão que todas as vezes que pedalei eu tive vergonha. Sim, vergonha do simples fato de estar andando de bicicleta. A vergonha me fazia ficar ansiosa e sair correndo, inconscientemente para acabar mais rápido. Estava pedalando por pedalar. Foi aí que resolvi diminuir o ritmo e me divertir. Comecei a copiar o filho do rapaz que fazia zig zag na pista, olhar as outras pessoas, os prédios, até buzinei para um rapaz que estava andando de patins e olhando o celular ao mesmo tempo (morria de vergonha de buzinar) e quando vi tinha dado uma volta em torno da avenida.
Resolvi que uma volta seria suficiente, por que eu não queria voltar para casa no escuro. Voltei feliz da vida, com uma sensação de vitória e me sentindo muito aventureira. Foram 8,7 km em 40 minutos. Que venha a próxima aventura.
P.s.: O retrovisor da bike é totalmente inútil. Não consigo enxergar nada com aquilo. Ou talvez eu que não saiba usar a parada.
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